Seytan é uma obra de terror, da Turquia que se tornou infame, por copiar a estrutura, narrativa e história de O Exorcista de William Friedkin. Lançado em 1974, um ano depois do clássico de horror, é uma obra de baixo orçamento e faz mudanças curiosas em relação a trama original, especialmente no tange a fé católica, que foi substituída pelo islamismo.
Dirigido por Metin Erksan, escrito por Yilmaz Tümtürk, foi produzido por Hulki Saner. A história segue uma garotinha meiga começa a se comportar de maneira estranha após brincar com uma tábua de ouija.
Quando seus modos se tornam grosseiros e violentos, a mãe procura ajuda médica, mas ninguém consegue detectar a doença que aflige a pobrezinha.
Não fica claro se a imagem é granulada e de baixa qualidade graças só ao baixo orçamento, se foi por terem guardado os filmes originais de maneira errada ou se é um defeito da remasterização . Nas versões mais novas se percebe que os figurinos eram paupérrimos e elementos de cenário idem.
O filme chegou aos cinemas turcos em 1º de novembro de 1974 e passou em poucos países pelo mundo. Passou em um festival da França, em setembro de 2015 no L'Étrange Festival. O filme ganhou uma fama internacional graças a fitas clandestinas que foram veiculadas pelo mundo.
O título original da obra é Seytan. Na Polônia é conhecido como Turecki egzorcysta ou seja, O Exorcista Turco, como foi chamado em um festival local. Na União Soviética era Дьявол.
O estúdio que fez o filme Saner Film, distribuído pela Cinefear em VHS, nos Estados Unidos. A Televista comercializou a obra em dvd, no ano de 2007 e pela Trash-o-Rama Distribución em DVD na Espanha.
Metin Erksan é conhecido por Verão Seco, Tempo de Amar e Makber.
Yilmaz Tümtürk escreveu Siyah melek, Eyvah, Hicran e Dagdan Inme.
Hulki Saner tem centenas de obras produzidas, entre elas Benzincinin aski, Ilk ask, Çam Sakizi e Gülizar.
Em canais de exibição de vídeo, especialmente no Youtube, é capaz de achar releases e versões que tocam a música Tubular Bells de maneira pirata. Não fica claro se quem colocou foi a pessoa que primeiro subiu algum arquivo, se é fruto das fitas piratas, fato é que é comum tocar a música que é presente no filme de 73, mas que não é executada na versão original de Seytan.
A narrativa inicia em um deserto, que pode ou não ser o Iraque do filme de Bill Friedkin. Alguns fatos da trama são confusos, afinal, o filme é contado em turco e a maioria das legendas são traduções de outras traduções. O sentido original pode se perder.
Na areia aparece um homem idoso, que passeia pelo lugar e limpa um objeto estilo souvenir, que deveria ser na verdade um artefato histórico, mas que fica claro que é apenas um brinquedo ou imitação.
Ele anda até uma imagem de uma entidade, ou algo que o valha, uma imitação muito tosca do deus sumério Pazuzu.
Depois disso, sem introduções ou apresentações, a narrativa invade a casa da bela Ayten (Meral Taygun). Não fica claro de início qual é sua função social, se ela trabalha ou não, fato é que ela joga tênis, aparentemente como hobby, mas pode ser que ela seja uma tenista, talvez até profissional.
Isso também não importa muito, a trama é desimportante, um fiapo, que piora diante da tradução do turco.
Ahmet, o serviçal feitor por Ahmet Kostarika recebe a reclamação de que há ratos na casa. A mãe acha que é isso que explica os estranhos barulhos. Moram com eles também Suzan (Ahu tuğba) a cuidadora da menina.
Gül aparece aos sete minutos. Ela é bastante bonita e jovem, interpretada por Canan Perver, atriz conhecida por filmes e folhetins da Turquia, como Derbeder e Çaresiz.
Antes dos dez minutos também é apresentado o escritor Tugrul Bilge, personagem de Cihan Ünal, ator conhecido pelo filme Mine Körebe. Na sua cena de apresentação ele conversa com seu tio, que aborda o tema óbvio de que sua mãe está doente.
Daí se intui que ele é o equivalente ao Padre Karras dessa versão. Esse segmento e a visita que ele faz a mãe dele dar conta de que ele estudou medicina, mas tinha o sonho de escrever.
Dessa forma, ele abandonou a carreira pelo qual gastou tempo e dinheiro estudando, não obteve sucesso e também por isso tem dificuldades financeiras que o impedem de cuidar à contento de sua mãe, especialmente do ponto de vista financeiro.
Essa mudança tão brusca de história é bem-vinda, afinal, esse é um filme para o público turco, que não tão ambientado ou familiarizado com o catolicismo. A maioria dos religiosos é muçulmano, então mudar a natureza do trabalho e dos conflitos do personagem central é correta.
A tábua ouija é levada pela mãe até a menina, mas ela já sabe jogar com ela. Conversa com o Capitão Lersen, que é obviamente o Capitão Howdy de O Exorcista. Tal qual ocorre no original, o espírito prefere se esconder, resolve não se manifestar para a mãe da menina. As duas mulheres conversam sobre Ekrem, que é o equivalente ao diretor Burge que cortejava Chris MacNeil no livro de William Peter Blatty e no seu roteiro.
Os barulhos estranhos seguem incomodando Ayten, que vai até o porão verificar da onde pode vir esse barulho. A cena é legal, ela sobe segurando uma velha vermelha, que claramente não ilumina nada, só serve para dar um susto, ao apagar subitamente.
Ayten é uma mulher de ação, ela discute com o pai ausente da garota, ela mesma investiga o que há de errado no porão e se surpreende ao achar um livro chamado Seytan, lá em cima do porão, do autor Tugrul.
Seria o livro dele o invocador do mal? Possivelmente, sim. O elemento do livro é retirado diretamente do romance, onde há um bom enfoque no fato de Regan ler um livro sobre espiritismo.
Seytan brinca com essa questão, unindo o correspondente de Karras a um autor de livro profano, como se Peter Blatty fosse um personagem convidado aqui.
As questões pessoais do escritor parecem mais aflitivas que esse início de drama juvenil e burguês, já que sua mãe está em um hospital psiquiátrico paupérrimo - ao menos é o que parece ser - cheio de senhoras idosas loucas, que ficam em um cômodo, enquanto ela está em outro, um lugar que mais parece uma cela.
A mãe morre logo depois, aparecendo já em um caixão, carregado pelo filho e pelos familiares próximos. Fosse mais séria a coisa, se sentiria um impacto emocional.
Esse é um filme sobre maternidade, talvez até mais que o roteiro da obra de 1973, já que as cenas da mãe louca se intercalam com Ayten perguntando de maneira sensacionalista quem é o dono do tal livro Seytan.
Ela pergunta a Suzan, depois a Ahmet, depois para a menina. Faz isso de maneira separada, para cada pergunta há uma cena e um take diferente, tendo em comum a capa gritante e azul do livro, em primeiro plano, no centro do registro.
Quando Ekrem finalmente aparece, assusta a semelhança dele com Tom Savini ele é interpretado por Ekrem Gökkaya. Na fatídica cena do mijo, é ele quem toca piano.
Esse momento é bem peculiar, pois Regan era mais nova, aparentava ser, pelo menos, era uma criança. Já Gül é uma adolescente, já tem traços de mulher, é difícil não achar muito estranhas as suas atitudes, especialmente quando começam as profanações e insinuações sexuais.
Quando ela se urina, o mijo que escorre tem uma cor estranha. Em algumas versões parece preto, em outros, verde. Fica a dúvida sobre qual é a tonalidade pretendida, afinal a qualidade dos negativos é nula, pode ser qualquer uma dessas cores, até mais de uma.
Depois disso ainda ocorre uma cena de banho, onde a mãe esfrega as costas da filha, que olha de maneira estranha para a câmera. Como ela já havia sido colocada em uma posição onde mostrava seu corpo, usando um collant de dança, é difícil não imaginar que a ideia era sexualizar a personagem e a atriz, o que torna tudo ainda mais complicado.
É difícil apontar pontos positivos, mas há algumas tentativas de soar original, como o enfoque em uma escultura na casa do tio rico de Bilge, a mesma que estampa alguns pôsteres, materiais de divulgação e a cena de introdução.
Toda vez que aparece um momento importante, ela está lá o foco nessa escultura, inclusive no momento em que o escritor sonha com a sua mãe.
Há momentos ridículos, como a cena da cama balançando, que consiste basicamente nas atrizes pulando sobre um colchão de pula pula, mas a cena dos exames invasivos é bem digna de nota, crua, cheia de sangue que escorre pelas agulhas.
Um dos doutores, feito por Yavuz Özkan é um açougueiro, sangrento e de atitude estranha. Depois ainda mostra os exames de raio x de maneira enorme em tela, num projetor na parede, que é maior que os doutores.
Até os exames são agressivos, um dos médicos sai da sala sangrando pela cabeça, líquido esse de cor duvidosa, parece uma tinta de pintar parede.
As outras manifestações demoníacas demoram, sobram cenas aludindo a fatídica escadaria perto da casa, além de cenas do estranho e suspeito policial bigodudo, feito por Erol Amaç.
Depois da fatídica cena de auto flagelo vaginal - aqui com um objeto de madeira, talhado com a imagem de um Demônio - a mãe resolve procurar o autor de Seytan, para se aconselhar a respeito de exorcismos, que aliás, ele recomenda não fazer.
Depois de ter um embate com a menina. A maquiagem é terrível, a jovem parece uma versão baixa renda de Regan, toda arranhada e lenhada, que fica pior ao ser vista em definição maior. O escritor resolve chamar o exorcista que aparece no início do filme.
O processo de expulsão do maligno reúne cenas de vômitos, a cama mexendo de acordo com movimento da menina e até a cama flutuando, em ângulos péssimos, diga-se.
O sacerdote fala em nome de Alá, que aqui é praticamente uma tradução literal da figura do Deus cristão em trindade. Não há diferenças entre os roteiros, simplesmente se substitui e pronto.
Güll é mais violenta que Regan, inclusive bate no exorcista, golpeia sua cabeça com duas mãos.
A cena da escada, com a morte do escritor é simplesmente vergonhosa, claramente não é o ator e sim um dublê, que rola lentamente até o chão, com cuidado para não se machucar. Quando é atendido por alguém, não seria por um padre, como na versão original e sim pelo policial, que o pergunta se ele foi assassinado ou se foi um suicídio, ao passo que o autor assume o segundo.
Dessa forma, o policial bigodudo não tem respostas para o seu inquérito, mas não parece preocupado, nem com essa resolução e nem com a família em particular, embora vá ver mãe e filha, quando as duas deixam a casa.
Güll encontra um homem velho, na saída para o final, que parece o profeta Maomé, ou seja, a obra fecha com uma mensagem de fé, com ela abraçando a religiosidade, após receber a bênção de se livrar de um espírito espúrio.
Seytan é uma imitação sem qualquer vergonha de ser assim, tem atuações horrendas, efeitos ruins e dramaticidade nula. Para os fãs de filme B, vale bastante a pena, já que é tosco, pitoresco e muito sem-vergonha.
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